Escultura Aqualtune – Princesa do Congo Os Últimos Nômades – Orí
Aqualtune foi uma princesa congolesa escravizada no Brasil e líder quilombola à frente de um dos 11 mocambos do Quilombo dos Palmares, que resistiu ao regime colonial por cerca de 130 anos. De acordo com a tradição Aqualtune teria liderado, em 1665, uma força de dez mil homens na Batalha de Ambuíla (cidade localizada na atual Angola), entre o Reino do Congo e Portugal, e foi capturada com a derrota congolesa. Com seus conhecimentos políticos, organizacionais e de estratégia de guerra, foi fundamental para a consolidação do Quilombo dos Palmares.
Ela foi, segundo a tradição, a mãe de Ganga Zumba e avó materna de Zumbi dos Palmares. De acordo com uma lenda ela teria dado à luz a Ganga Zumba e seus irmãos após ter chegado no Brasil. Porém isso é pouco provável pois ela teria sido enviada ao Brasil no ano de 1665 e cinco anos depois em 1670 Ganga Zumba já era um homem adulto e com três esposas, já sendo o líder do Quilombo dos Palmares. Ou seja tal afirmação deve ter surgido como uma lenda sem respaldo na realidade. A própria existência de Aqualtune como figura histórica é questionável, podendo ter sido uma figura mitológica que teria surgido séculos depois.
Uma celebração à cultura africana em tempos que se vocifera e legitima a catástrofe e a aberração do racismo. É isso que o multifacetado artista, cenógrafo e figurinista carioca Luiz Marques apresenta em sua estréia com a coleção “Os Últimos Nômades – Ori”.
Coleção inspirada na cabeça de bronze de Ifé, Ori Olocum é uma das dezoito esculturas encontradas em escavação em 1938 em Ifé, na Nigéria, centro religioso da cultura Iorubás. Por sua religiosidade firmada por anos no Candomblé e imerso na cultura das festas
afro-brasileiras, trabalhando ao lado de grandes nomes como Joãozinho Trinta, ele nos apresenta essa série de cabeças esculpidas a partir de papelão descartado, material esse muitas vezes fonte de trabalho da população marginalizada das nossas grandes cidades.
Seu trabalho traz à tona uma releitura da beleza ancestral africana, um olhar sobre nós mesmos, do racismo estruturado em nossa sociedade, da apropriação estética africana e como também observamos a nossa comunidade do ponto de vista político. A mulher e o homem, pretos, que carregam o papel descartado pela sociedade privilegiada, do consumo desenfreado, para manter sua subsistência. O ser humano, africano, por mais de 500 anos sendo tratado como pessoa de menor valor pelo estado e sociedade, sendo exposto ao mundo a partir da peculiaridade do material daquilo que subsiste.
Os Últimos Nômades não é somente sobre a beleza, é a proposta do resgate da cultura, um ato político em meio a onda conservadora, racista e xenofóbica que assombra nossa democracia e país. É um alento ao assustador movimento de despolitização das conquistas da população afrodescendente. Esse artista, que tanto ao longo da sua carreira, celebrou as estéticas da cultura africana em seus trabalhos, ascendendo o orgulho desses povos, propõe hoje, a partir do seu olhar, uma reflexão sobre o que estamos aos poucos matando.
Técnica mista em papelão reciclado.
Base feita em concreto.
Tamanho (Largura x comprimento x altura): 24 x 31 x h56 cm