Escultura Nawi – A Última Mino Os Últimos Nômades – Orí
Mino, as amazonas do Daomé. Elas formavam a tropa de elite do rei na atual República de Benin, e aterrorizaram africanos e colonizadores europeus. Eram chamadas de Mino, que significa “nossas mães”, na língua fon. Por volta de 1720, a tropa feminina já estava armada com mosquetes adquiridos de comerciantes europeus em troca de escravos. No século seguinte, as tropas reuniam entre 1.000 e 6.000 mulheres-soldadas sob comando feminino. Eram rigorosamente treinadas e estavam equipadas com armas
dinamarquesas, depois substituídas por rifles Winchesters. As amazonas lutaram para aprisionar cativos que abasteciam o lucrativo comércio de escravos de Daomé. O reino africano foi um dos grandes fornecedores de escravos para as Américas, inclusive para o Brasil. No final do século XIX, as mulheres guerreiras de Daomé combateram as forças francesas lutando corpo a corpo nas guerras de 1890 e 1892-1894. Os europeus ficaram impressionados com a coragem, ousadia e ferocidade das amazonas, muitas delas jovens de 16-18 anos de idade. A última vez que elas entraram em combate foi em 1894, quando a França subjugou o reino africano. As tropas femininas foram dissolvidas e novos valores foram impostos, entre eles o casamento que submeteu a mulher à dependência e autoridade do marido. Acredita-se que a última sobrevivente das amazonas de Daomé tenha sido uma mulher chamada Nawi. Em uma entrevista de 1978 para um historiador beninense, ela alegou ter lutado contra os franceses em 1892. Ela morreu em novembro de 1979, com mais de 100 anos.
Uma celebração à cultura africana em tempos que se vocifera e legitima a catástrofe e a aberração do racismo. É isso que o multifacetado artista, cenógrafo e figurinista carioca Luiz Marques apresenta em sua estréia com a coleção “Os Últimos Nômades – Ori”. Por sua religiosidade firmada por anos no Candomblé e imerso na cultura das festas afro-brasileiras, trabalhando ao lado de grandes nomes como Joãozinho Trinta, ele nos apresenta essa série de cabeças esculpidas a partir de papelão descartado, material esse muitas vezes fonte de trabalho da população marginalizada das nossas grandes cidades
Seu trabalho traz à tona uma releitura da beleza ancestral africana, um olhar sobre nós mesmos, do racismo estruturado em nossa sociedade, da apropriação estética africana e como também observamos a nossa comunidade do ponto de vista político. A mulher e o homem, pretos, que carregam o papel descartado pela sociedade privilegiada, do consumo desenfreado, para manter sua subsistência. O ser humano, africano, por mais de 500 anos sendo tratado como pessoa de menor valor pelo estado e sociedade, sendo exposto ao mundo a partir da peculiaridade do material daquilo que subsiste.
Os Últimos Nômades não é somente sobre a beleza, é a proposta do resgate da cultura, um ato político em meio a onda conservadora, racista e xenofóbica que assombra nossa democracia e país. É um alento ao assustador movimento de despolitização das conquistas da população afrodescendente. Esse artista, que tanto ao longo da sua carreira, celebrou as estéticas da cultura africana em seus trabalhos, ascendendo o orgulho desses povos, propõe hoje, a partir do seu olhar, uma reflexão sobre o que estamos aos poucos matando.
Técnica mista em papelão reciclado.
Base feita em concreto.
Tamanho (Largura x comprimento x altura): 31 x 20 x h56 cm